Problemas Digestivos e Gatrointestinais
Pessoas com esclerose sistémica podem desenvolver anomalias no sistema digestivo e gastrointestinal, desde a boca até ao ânus. A produção excessiva de colagénio típica da esclerodermia pode causar espessamento e fibrose (ou cicatrizes) nos tecidos. Isto pode resultar de fraqueza muscular e leva a uma anomalia dos movimentos lentos da comida (dismotilidade) no processo digestivo.
--> DISFUNÇÃO NO ESÓFAGO
A comida que ingerimos chega ao estomago a partir da boca e garganta através do esófago. Normalmente o esfíncter inferior do esófago atua como uma porta que abre para permitir que a comida entre no estomago e fecha para impedir que esta volte para o esófago. Em pacientes com esclerose sistémica, este esfíncter não fecha convenientemente o que provoca refluxo de ácido do estomago (azia). O ácido pode danificar o revestimento do esófago, causando cicatrizes e o estreitamento do esófago. A produção de ácido pode ser reduzida, minorando os problemas de refluxo e azia, evitando a ingestão de álcool, gorduras, picantes, chocolate, tabaco e cafeína. Mesmo com estes cuidados, alguns pacientes poderão necessitar de medicação para diminuir a produção de ácido no estomago.
Há muitos medicamentos para este efeito, atualmente os mais utilizados são os inibidores da bomba de protões, onde se incluem o Iansoprazol, o Omeprazol e o Esomeprazol. O antagonista do recetor H2 (Ranitidina) também pode diminuir a produção de ácido. Em pessoas com um refluxo grave poderá ser utilizada a combinação destes dois grupos de medicamentos. Em alguns casos o médico poderá prescrever metoclopramida e domperidona para estimular a atividade muscular do esófago e estomago.
A força da gravidade ajuda a manter a comida e o ácido no estomago; ficar de pé após as refeições poderá ajudar. Para prevenir o refluxo é importante comer pouco e várias vezes ao longo do dia, não ingerir alimentos durante as horas que antecedem a hora de se deitar e, elevar um pouco a cabeceira da cama. O excesso de peso aumenta o refluxo.
Comer devagar e mastigar muito bem é muito importante. Engolir e digerir alimentos torna-se mais fácil se estes forem moles (podem até recorrer ao liquidificador).
--> INTESTINO DELGADO
A fraqueza dos músculos do intestino delgado pode afetar o percurso dos alimentos ao logo do intestino. Uma das consequências poderá ser o aumento das bactérias naturais do intestino, o que leva à ocorrência de diarreia. Também pode ocorrer a sensação de inchaço e alguma dor abdominal. Outra consequência é que em vez de serem absorvidos para o organismo, os nutrientes permanecem no intestino. A este problema chama-se Má-absorção e resulta na perda de peso e anomalias no intestino.
Para a diarreia e má-absorção o seu médico poderá receitar um antibiótico e em alguns casos suplementos vitamínicos e ferro. O seu médico poderá também recomendar a diminuição de alimentos ricos em gorduras e o aumento na ingestão de carbohidratos. Em alguns casos poderá ser benéfico consultar um nutricionista.
--> INTESTINO GROSSO
Músculos fracos ou com cicatrizes podem impedir o intestino grosso de funcionar convenientemente, o que pode resultar em obstipação ou outras anomalias no cólon. Uma dieta rica em fibra e a ingestão de pelo menos seis copos de líquidos (preferencialmente água) ajudará na obstipação. Fruta e vegetais frescos são laxantes naturais. A prática de exercício físico ajuda também a manter a regularidade dos movimentos intestinais. O seu médico poderá também recomendar a utilização de laxantes e agentes de volume tais como a lactulose ou Fybogel.
--> RECTO E ÂNUS
A implicação da última parte do intestino grosso pode provocar incontinência fecal. Esta consequência pode ser mais grave no caso de o paciente sofrer de diarreia. Há medicamentos que por vezes podem ser úteis ajudando a abrandar os movimentos intestinais. Em casos mais graves pode ser necessária intervenção cirúrgica.
Catarina Leite